10 de julho de 2012


Relatos históricos de uma sobrevivente do massacre de Hi-no-moto.

Oppaiosa Usoka é uma heroína, uma mulher tradicional que vivia na primeira cidade costeira antes do ataque dos povos nativos do continente Shitago. Hoje eu tenho a imensa gratidão de documentar parte da historia (mesmo sendo a parte mais triste) desta guerreira, que sobreviveu por quase um dois nas mãos deste odioso povo.

M.M.: Usoka-san poderia nos contar como foi aquele dia, o dia da chegada dos povos vindos do continente Norte.

O.U.: Começou como um dia comum, acordei cedo para fazer o desjejum de minha família, alguns minutos depois meu marido acordou também, e por ultimo meu pequeno filho. O dia transcorreu normalmente, fiquei em casa realizando as tarefas diárias, meu marido, que era pescador, foi ao mar buscar o sustento de nossa família, enquanto meu filho ia à escolinha da Kaiene-sensei. Meu marido retornou mais cedo da pescaria naquele dia, normalmente ele retornava as 16:00, mas naquele dia ele retornou antes do meio-dia, ele falou sobre ter visto algo a muito longe,  mas não nos importamos com isso, pois naquela manhã, Mizuki havia
abençoado os mares, pois a pequena canoa de meu esposo e também dos outros pescadores estava abarrotada de peixes, nunca ele havia pescado tantos em tão pouco tempo.  Aquela foi nossa ultima comemoração em família, meu marido comprou algumas garrafas de sake para nós, coisa que por nossas simples condições, apenas acontecia em dias de festejos. Era 20:00 quando botei meu filho na cama, eu e meu marido ficamos acordados mais um pouco, apreciando as estrelas e depois nos recolhemos, estava um pouco alta por causa do sake, o que foi suficiente para minha libertinagem aflorar e avancei sobre meu esposo, tivemos uma  noite de amor e então fomos dormir. Mal sabia eu que seria a ultima noite que eu poderia colocar meu filho na cama, ou sentir o calor de meu marido. Não sabia ao certo que horas eram, mas parecia que o dia havia se juntado a noite, pois em meio às sombras, grandes clarões podiam ser vistos e junto a eles, grandes barulhos, explosões atingiam a cidade e uma delas alcançou nossa casa, desmaiei. Quando meus olhos abriram novamente vi meu filho presos debaixo da nossa casa, seus gritos não eram os únicos, tentei inutilmente suspender aquele peso, mas nunca fui muito forte, meus olhos desatavam em lágrimas, sem ter o que fazer por meu filho, foi quando de debaixo de outro escombro meu esposo se levantou, ele veio em minha direção e se pôs a levantar os escombros, seus braços fortes ergueram todo aquele peso, me dando oportunidade de arrastar-me até minha criança, teríamos fugido facilmente, se não tivéssemos sido atrapalhados. Eu vi o sangue do meu marido fugir de seu peito, por um buraco feito por uma lança que o atravessou, um ataque covarde feito a um homem totalmente indefeso, que tentava salvar seu filho. O ser maldito, que hoje é conhecido como Erufu, feria mortalmente meu esposo, mas este mesmo agonizando, usou de suas ultimas forças para arremessar seu carrasco longe, enquanto com um único braço ergueu os escombros para permitir nossa passagem, mas foi tudo que ele pode fazer, pois tombou logo em seguida. Mas eu e minha criança estávamos cercadas. Aqueles soldados, pessoas que eu nunca vi antes, hoje conhecidos como Ningens e Duwafus, e também Erufus, haviam chegados em uma gigantesca embarcação, de um tamanho nunca antes visto e está armada com ferramentas de destruição de larga escala, chamados agora de canhões. Tentei como pode segurar meu filho, mas um forte soco em minha face me fez o soltar, em quanto éramos arrastados em direções opostas, nunca mais o vi.

M.M.: Pelos relatos históricos, todos os homens que sobreviveram foram mortos, não importando a idade, e qual foi o destino das mulheres?

O.U.: Depois de ser separada de meu filho fui arrastada até onde as outras de nós estavam, reconheci alguns rostos, poucas amigas, outras apenas que já tinha visto nos festivais, e também tinham aquelas que nunca havia visto, não encontrei Kaiene-Sensei, pensei que ela não teve sorte e havia morrido, mas depois que vi o que nos esperava pensei que, ela sim teve sorte, nós fomos presas com o que eles tinham disponíveis, muitas como eu foram acorrentadas, muitas colocadas em jaulas, muitas vezes com lotação MUITO acima do normal. Quando estes métodos acabaram partiram para outras alternativas, usando cordas ou cipós. E as mais desafortunadas, que foram localizadas por último. Estas foram as que mais sofreram naquela noite, pois muitas tiveram um, ou mais pés amputados, algumas até os braços ou asas.

M.M.: Em algum momento você pensou em suicídio?

O.U.: Sim! Muitas vezes pensei nesta situação, e muitas cometeram, mordendo as próprias línguas e sufocando, até que eles perceberam e começaram a nos amordaçar. Mas em todas as oportunidades que tive algo me impedia, como se uma voz, implorasse para que eu não o fizesse isso. Mas tarde eu descobri quem era essa voz.

M.M.: E quem seria está? Um antepassado, a voz de seu falecido marido ou filho?

O.U.: Não. Não era alguém que havia morrido, e sim alguém que ainda iria nascer. Meu falecido esposo havia me deixado um último presente antes de partir, naquele dia onde tivemos nossa última noite de amor, ele havia me deixado sua herança. Meu querido Kiseki, mas aquilo também me deixou muito preocupada, não queria que minha criança nascesse ali, naquele ambiente, onde sua mãe era maltratada e abusada, principalmente se este fosse um garoto, imaginei que eles o matariam logo após o nascimento.

M.M.: Que tipos de maus tratos e abusos você sofreu, poderia nos contar?

O.U.: Muitos, coisas horríveis que hoje em dia são aplicadas como punição as remanescentes Doreis, fui usada por homens, às vezes por noites inteiras. Além disso, por ser uma característica bem comum as do meu Clã, também era usada como gado leiteiro.

M.M.: Conheço a anatomia das pessoas do seu clã, muitas Youkais da família Ushi, tem uma produção exagerada de leite materno, já é complicado para nós, que por termos vidas longas, e gestações de quase uma década, passamos 30 anos produzindo leite, imagine vocês que produzem por toda a vida.

O.U.: Não são todas que possuem essa disfunção hormonal, mas eu tenho esse problema também, e foi isto que me ajudou a sofrer menos nas mãos dos povos conquistadores, além do meu temperamento dócil, comparada a muitas outras eu praticamente não sofri nada. A propósito espero que esteja gostando do chá de leite.

M.M.: Hãããããããã... unnnnnnnn.... eeeeeee.... o que você sentiu quando alcançaram Kuro-Ishi (Pedra Negra)?

O.U.: Imaginei que seria igual às outras vilas e cidades, nunca havia estado lá nos meus 328 anos, mas tudo mudou a partir daquele momento, os até então invencíveis conquistadores, tiveram sua primeira derrota, e ficaram impossibilitados de avançar, pois as Dai-Tetsu, não podem ser circundadas, apenas atravessadas, isso naquela época. Forçados assim a recuar, cada vez mais outros povos Youkais se juntavam para contra-atacar os Shitagos.

M.M.: É verdade que depois dessa batalha, os povos do continente Norte, cometeram coisas ainda mais brutais?

O.U.: Sim! Seus métodos de combate se tornaram ainda mais covardes, eles já usavam de armas cruéis, equipamentos que podem assassinar um Oni facilmente, coisas chamadas Minas, que ficam armadas no chão. Eles usavam estas até mesmo nos corpos de muitas de nós, muitas tiveram seus corpos abertos, e em seu interior foram colocadas estas armas, e quando os guerreiros as alcançavam, indefesos por estarem tentando resgatar sobreviventes, elas eram detonadas, matando heróis e prisioneiras. Outro método comum para nos usar, eram os de acorrentar nas muralhas, ou sobre as máquinas de guerra. Impedindo para que estes fossem atacados a distância, a não ser que nós fossemos sacrificadas. Mas a entrada das Tenshis, Duroous, e até mesmo dos Onis que sempre foram nossos inimigos, pela selvageria e antropofagia, mas que por motivos desconhecidos nos ajudaram. Foi o que levou a ruína dos conquistadores do continente norte.

M.M.: Eu li muito sobre esses feitos, se não me engano os Duroous localizavam estas armas no solo e até mesmo nos corpos de nossas irmãs, as muralhas eram contornadas facilmente pelas Tenshis que voavam por cima delas, e os Onis, cobertos de proteções mágicas eram verdadeiros colossos no campo de batalha, alcançando as máquinas de combate e libertando as cativas como se os tiros das armas dos shitagos fossem apenas folhas secas carregadas ao vento, tentado derrubar uma montanha.

O.U.: Sim, e tais atos se repetiram, até mesmo na batalha da Reconquista, quando vi o mais formidável trabalho em equipe. Milhares de Tenshis tinham antecipado a retirada dos povos inimigos, e estas voaram para Hi-no-moto, derrotaram as sentinelas que permaneceram na cidade e, juntas, num trabalho coordenado, arrastaram a gigantesca embarcação para longe da costa. Os povos inimigos ficaram encurralados, entre o mar e nossos exércitos. Não tendo opções eles se renderam!

M.M.: E o que você acha da atitude do governo?

O.U.: Justa, é o mínimo que eles merecem por tudo que fizeram, milhares morreram naqueles anos, muitas ficaram invalidas mutiladas pelas ações deles, a quantidade de suicídios, que sucederam ao final da guerra, por parte das prisioneiras foi gigantesco. As doreis merecem todo sofrimento que estão passando, pelos erros de seus antepassados.

Trecho extraído do livro “A dor da guerra” de Murakumo Mitsuko, Okihara.

Oppaiosa Usoka foi uma, entre muitas filhas de Gotoshi, que sofreu nas mãos dos povos do continente norte. Entretanto esta não vislumbrou tudo o que estes povos fizeram. Em outros registros históricos, foram descritas muitas outras formas de tortura que foram praticadas contras os Youkais. É sabido que nem todos os homens eram mortos, muitos eram presos, e mais tarde usados como lenha viva, para alimentar as máquinas de guerra, mulheres eram usadas como gladiadoras, obrigadas a enfrentarem umas as outras, até mesmo irmãs ou mães e filhas foram colocadas a se enfrentarem nestas arenas improvisadas, onde apenas uma retornava com vida.

Destaca-se a historia de duas irmãs gêmeas do clã Saru (macaco), que foram obrigadas a se enfrentarem, sem ter como fugir, e sabendo que se uma não matasse a outra, ambas seriam mortas. Elas então se aproximaram, seus olhos fixos na outra, os cabelos que alcançavam os ombros esvoaçavam ao vento, quando elas estavam a distância das armas pararam e então, se abraçaram, colocaram suas espadas uma nas costas da outra, empunhando-as com as duas mãos e, como se já tivessem ensaiado, as duas fincaram as lâminas nos corpos, tendo as espadas atravessado ambas, morreram ali juntas, abraçadas.

Tais cenas voltaram a acontecer nas outras noites, forçando aos conquistadores abrirem mãos desta forma errônea de divertimento.  Hoje existem estatuas em homenagem as duas (algumas retratando a nobre cena) e um ditado popular: “Se tiveres que tirar a vida de um inocente, que tire junto a sua”.

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